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Chris Fuscaldo vira Drag King no clipe ‘Minha Menina, Não’

Genilson Coutinho,
18/10/2018 | 16h10

Por Ceci Alves

Transformar-se parte de nossas pulsões e desejos. Os mesmos desejos que nos conecta, esta força que nos move e às vezes nos compele uns aos outros tem a célula da (re/des)construção. Trazer a força trans para o videoclipe Minha Menina, Não, da cantora e compositora fluminense Chris Fuscaldo tem a ver com isso: desejo, voz, força, transformação. Ao se travestir de drag king – fazendo uma releitura do personagem Caio Roberto Emanoel Belsetto, criação da artista baiana Ingridy Carvalho, responsável também pela caracterização e maquiagem –, Chris presta uma homenagem a este lugar de fala, borrando as fronteiras mais óbvias entre masculinidade e feminilidade para buscar, a partir daí, um reforço à letra da música, que apela para um feminino potente, que não verga e se posiciona em seu lugar de escolhas e de força.
Também no clipe, o ator Herbert Silva Leão, paulista radicado há quatro anos na Bahia, revive sua personagem, a drag queen Lility Buck, maquiado e caracterizado pela artista trans baiana Jenny Müller. Herbert segue em rumo de uma significativa experiência como ator: a personagem que ele apresenta neste clipe tem 13 anos de existência, e também foi criada para discutir de forma alegórica, mais presente, os papéis de gênero com os quais ele e todos nós temos que conviver: masculino-viril-andrógino-afeminado-feminino-ativo-passivo… todas essas binaridades, que deveriam ser lâmina e não ponta de lança. Deveriam ser amálgama, e não divisão.
Filmado na Casa Preta, em Salvador, lugar de resistência e discussões artísticas e sociais, o videoclipe Minha Menina, Não é uma celebração a esse yin/yang que a diversidade nos propõe, de múltiplas possibilidades, entradas, empoderamentos, misturas, plenitudes. Concebido e dirigido a quatro mãos, entre Ceci Alves e Chris Fuscaldo, o videoclipe está na ordem do dia do pensamento de Ceci Alves, sempre preocupada, em suas obras, com o tema da visibilidade, do dar voz ao diferente, aquilo que, aos olhos da sociedade, parece o anômalo, o lugar da minoria, o que deve estar escanteado. O querer da diretora é mais que jogar luz: é colocar no lugar de protagonismo.

 Minha Menina, Não está no álbum Mundo Ficção, lançado por Chris Fuscaldo em parceria com a editora Warner Chappell nas plataformas digitais. Iniciada nos idos de 2009 por Chris e Taís Salles – na época, parceiras na banda ECT (Eu, Chris e Taís) – a partir de um mote sugerido por Totonho(do grupo Totonho e Os Cabras), a composição foi resgatada e finalizada pela cantora e compositora para seu primeiro álbum autoral.

 Chris Fuscaldo nasceu em Niterói, praticou balé e sapateado na infância e adolescência, estudou canto popular e violão, formou-se em Jornalismo e em Letras, cursou Teatro na Casa das Artes de Laranjeiras e começou a escrever sobre música aos 19 anos. Trabalhou para jornais (Extra e O Globo) e revistas (MTV, Rolling Stones) e, entre 2008 e 2010, esteve à frente de duas bandas como cantora e “tocadora” de instrumentos exóticos (tempestade, queixada, namastê etc): ECT (Eu, Chris e Taís) tinha como foco canções autorais de seus outros integrantes, Taís Salles e Rodrigo Sestrem, e clássicos da música brasileira; Press Play foi um projeto de tributo com os jornalistas Leandro Souto Maior, Mariana Dantas, Silvio Essinger, Ricardo Calazans, Paulo Henrique Fontenelle e outros, que homenageou Bob Dylan, Madonna e o Rock in Rio em shows pelo Rio de Janeiro. Chris Fuscaldo estreou como escritora com o livro Discobiografia Legionária, em 2016, e, em 2018, lançou o Discobiografia Mutante. Doutoranda em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela Puc-Rio, ela pesquisa a histórias das cantautoras (cantoras e compositoras) brasileiras e prepara uma biografia de Zé Ramalho para 2019.

 Ceci Alves possui graduação em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (1994). Está à frente da empresa ¡Candela! Produções Audiovisuais e é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia – PPGAC/UFBa. É uma cineasta negra, que imprime em seu trabalho uma narratividade musical, lidando com questões de militância e protagonismo dos excluídos de uma forma afetiva e política. Ceci Alves também é formada em Edição e Montagem pela Escuela Internacional de Cine y TV de San Antonio de los Baños, La Habana, Cuba, com Master 2 em Direção pela École Supérieure d’Audio-Visuel, unidade da Université de Toulouse, Le Mirail, França. Reconhecida documentarista e curta-metragista, tem premiações no Brasil e exterior com os filmes Doido LeléDa Alegria, do Mar e de Outras CoisasO Velho Rei. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Jornalismo e Cinema, tendo passado pelo Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia – IRDEB, pelos jornais A Tarde e Correio. Como professora, atuou na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia – UFBa e no Centro Universitário Jorge Amado – UniJorge.