CENSURA NUNCA MAIS?
Para quem escolheu a arte como profissão e viveu os 21 anos da ditadura militar, o 3 de agosto de 1988 ficou marcado como a data oficial do fim da censura no Brasil, dia em que foi votado na Assembleia Constituinte (1987/88) o conteúdo da nova Constituição Federal referente ao tema da censura.
Censura nunca mais! Esse foi o grito de guerra – ou teria sido o mantra? – que eclodiu nas bocas de jovens e velhos, das gerações que, entre 1964 e 1985, viram o Regime Militar aplicar a censura à música, ao teatro, à literatura, ao cinema e ao jornalismo, servindo-se de órgãos de Estado, como a Divisão de Censura e Diversões Públicas (DCDP), o Conselho Superior de Censura (CSC) e o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
Trinta e um anos depois, quando estávamos certos de que o Brasil vivia seu maior interregno democrático, assistimos, estupefatos, boquiabertos e incapazes de uma reação condizente com o tamanho do perigo que nos ameaça e agride, ao renascimento da censura. E ela, como erva-daninha que se preza, se espalha por diversos órgãos do governo, encontra eco na sociedade civil e mesmo entre artistas que, equivocados, parecem acreditar que há uma censura do bem e outra do mal.
Assistimos ao desmonte da Agência Nacional do Cinema – Ancine e da Fundação Nacional de Artes – Funarte. Espetáculos são cancelados, só no mês de setembro calaram as vozes de Abrazo, do grupo Clowns de Shakespeare, na Caixa Cultural de Recife; de Gritos da companhia franco-brasileira Dos à deux, no Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília; do musical Lembro todo dia de você, do Núcleo Experimental, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro e de Caranguejo Overdrive, da Aquela Cia, no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro.
Por isso, ao slogan que ecoou anunciando o final dos anos de chumbo acrescentamos uma interrogação, assim nasceu o Censura nunca mais? Precisamos nos questionar, precisamos discutir, precisamos nos olhar olho no olho para que o ponto final possa, definitivamente, substituir o ponto de interrogação.
Para lembrar que “a arte é filha da liberdade e quer ser legislada pela liberdade do espírito” (Friedrich Schiller) convocamos a todos que acreditam que há defesas que independem de políticas partidárias, como os direitos fundamentais, os direitos humanos e a democracia, para um encontro no dia 21 de outubro, às 17h, na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia. Uma escola que há 63 anos forma artistas e plateias nessa cidade, que é referência nacional e internacional nas artes cênicas não pode ficar fora dessa discussão, não há melhor lugar para ela que o palco do Teatro Martim Gonçalves.
Convidamos para conversar conosco Bernard Attal – cineasta e produtor de cinema, Cleise Mendes – dramaturga e professora do PPGAC-UFBA, Fernando Guerreiro – encenador e Presidente da Fundação Gregório de Matos, Geovane Peixoto – advogado e professor da Faculdade Baiana de Direito e da Faculdade de Direito da UFBA, Malu Fontes – jornalista e professora da Faculdade de Comunicação da UFBA e Marcio Meirelles – encenador e Diretor do Teatro Vila Velha. Para moderador da mesa convidamos Sérgio Sobreira – professor da Faculdade de Comunicação da UFBA.
Contaremos com a participação especial de Gil Vicente Tavares, dramaturgo, encenador, compositor e professor da Escola de Teatro da UFBA, que encerrará nosso encontro relembrando algumas das canções censuradas “num tempo, página infeliz da nossa história” para que possamos em uníssono reafirmar Vai passar… Contra a censura e pela liberdade de expressão, essa sim, ampla, total e irrestrita…