Comportamento

Social

Casal gay supera limitações da surdez e celebra casamento em Salvador

Genilson Coutinho,
22/07/2015 | 13h07

ibahia

Aquele 8 de julho de 2014 tinha tudo pra terminar triste após a derrota do Brasil de 7×1 para Alemanha. Naquele dia, mais de 40 mil pessoas acompanharam a partida no Farol da Barra. Entre tanta gente, dois olhares se cruzaram. George, 27, e Nilton,40, estavam com grupos de amigos diferentes em um camarote particular e a atração entre eles começou logo no começo da partida.

“Eu estava arrancando os meus cabelos (da barba, claro. risos) de tanta ansiedade em ver aquele absurdo no telão. Quando já não havia mais esperança de terminar àquele dia sem querer, no mínimo, quebrar o camarote inteiro, decidi afogar as mágoas com o resultado da partida no bar do espaço. Quando eu estava a caminho de assassinar meu quase infalível fígado, eis que me deparo com uma imagem, um sentimento, uma transição, sei lá como chamar esse tipo de sentimento. E decidi observar”, contou Nilton.

Entre idas e vindas provocadas por Nilton para passar por George, eis que em um momento a olhada foi correspondida e nessa hora ele teve certeza que deveria investir. “Eu, um tímido incorrigível no quesito paquera, estava solteiro e louco para sair do 0x0. Fui chegando próximo, por trás, sorrateiramente e soltei: ‘Oi, posso assistir o final com você?’. Silêncio. Nada. Nenhuma resposta”, contou. O que o designer de interiores não sabia era que George não podia ouvir a ‘cantada’ passada por Nilton por que ele é surdo. Desde criança.

 

Sem saber da condição do amado, George, achando que teria levado um possível fora, resolveu tirar satisfação com ele. “Dei a volta no camarote, parei na frente dele e falei que não custava responder ao comentário de alguém. Foi quando percebi que ele também me viu, me absorveu, me amou, mas não me ouviu”. Através do celular George contou que era surdo e a partir daí, e por um certo tempo, a comunicação dos dois se resumia em mensagens através do celular. O namoro também começou naquele momento e com a ajuda da tecnologia. “Não daria para esperar, somos Leoninos”, ri.

Para tentar se comunicar diretamente com George, Nilton resolveu fazer um curso de Libras para não depender mais da tecnologia e afirmou que a relação ficou bem melhor após a iniciativa. “Chats, Messenger, Facebook, ajudaram absurdamente no primeiro momento, mas uma relação sólida deve ser baseada no diálogo, real, olho no olho. Essa foi a melhor atitude que tomei. A relação ficou mais humanizada e eu adoro isso”, disse.

Com quase um ano de namoro e a relação cada vez mais firme, eles tiveram a certeza de que deveriam formalizar a união. “Quando estamos juntos, nossa cumplicidade é incrível. Rimos muito, temos sensações de euforia, alegria, tristeza e isso me fez perceber que estar juntos, morar juntos, encarar a vida juntos pode ser um bom estreitamento ao invés de ser uma espécie de invasão. A gente nunca sabe qual o momento certo pra casar. As pessoas comentam que depois do casamento tudo fica meio chato, monótono, etc. Eu penso que quando se tem o mesmo desejo de acordar juntos, partilhar de todos os momentos, e vontades muito similares, todos esses fatores fazem do momento o certo”, contou.

Mas foi através de uma conversa no WhatsApp que a ideia de casar chegou na relação deles.  “Durante as nossas conversas, eu sempre observava que antes das nossas longas despedidas no chat, George me enviava emoticons de coração, carinhas felizes, beijos, e alianças de compromisso. Eu achava tudo lindo e um tanto curioso, mas não entendia àquilo como uma possibilidade”.

“”Quando estamos juntos, nossa cumplicidade é incrível. Rimos muito, temos sensações de euforia, alegria”, derrete-se Nilton

As coisas tomaram um rumo diferente quando Nilton recebeu uma proposta de trabalho e, se aceitasse, teria que sair do estado. Antes de tomar a decisão, Nilton resolveu partilhar a situação com George para saber como a relação deles ficaria caso aceitasse. A resposta foi a melhor possível. “Quando contei isso, ele foi repetidamente preciso, emocionante, surpreendente e tudo mais na resposta: ‘Para qualquer lugar que você for, seja para onde, eu vou junto com você’. Pronto! Corri na loja, fiz uma foto das alianças, chamei seus pais e fiz o pedido”, lembra.

Com os preparativos a mil para o casamento, que será realizado no Litoral Norte no dia 3 de outubro, tudo que o casal quer é uma festa com a cara deles. “Teremos nossos padrinhos amados, família e amigos para fazer da festa uma total alegria e com muita emoção”, conta Nilton

Felizes e com amor transbordando, os dois já estão na fila da adoção para a chegada daquele (a) que vai completar a família. “Sabemos que vai demorar um pouco, mas quando nosso filho (a) chegar será muito bem-vindo(a). O Brasil ainda peca muito nesse quesito, mas somos confiantes e sabemos que dará tudo certo. Se não acontecer em tempo relativamente hábil, analisaremos novas possibilidades”, projeta.

Do Ibahia Casamentos .