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Carlos Tufvesson defende criação de delegacia LGBT no Rio de Janeiro

Genilson Coutinho,
30/06/2016 | 16h06

Carlos/ Foto: Givulgação

O coordenador especial da Diversidade Sexual da prefeitura do Rio, Carlos Tufvesson, defendeu a criação de uma delegacia específica para a apuração de crimes contra gays, lésbicas, travestis e transexuais. Tufvesson concedeu entrevista ao BLOG LGBT do DIA durante a celebração do DIA Internacional do Orgulho LGBT, no Cinema Odeon, no Centro do Rio na noite desta terça-feira. No dia anterior, esta reportagem divulgou uma triste esatística: em uma semana, seis LGBTs foram mortos no estado, em crimes envolvendo emprego de grande violência. Em todos os casos, as investigações suspeitam de homofobia e transfobia como causas das mortes.

“Eu, como militante, já fui contra, mas eu estou revertendo a minha posição. Da mesma maneira que as mulheres ficam constrangidas de ir a uma delegacia falar sobre estupro e foi fundamental a criação de uma delegacia das mulheres; é nítido e notório que os LGBts têm dificuldade de ser atendidos como cidadãos nas delegacias, não só no Rio, mas no país. Isso mostra uma descrença no poder público. A gente precisa mostrar que existe um estado democrático de direito e que somos cidadãos como outro qualquer”.

Sem citar a presidente afastada, o coordenador criticou a presidente Dilma Rousseff, que no dia de ontem postou no Twitter mensagem de apoio ao movimento LGBT e promessa de trabalhar para combater a homofobia em uma eventual volta ao governo. No entanto, o pouco empenho de Dilma para aprovar medidas de combate à homofobia e transfobia durante os anos no governo, deixaram os LGBTs incrédulos. No dia de ontem, uma enxurrada de memes condenando a fala de Dilma tomaram a timeline de pessoas ligadas à luta pelos direitos humanos.

“Há dez anos o governo federal tem números de que esses crimes estão em aumento e não temos nenhum programa de fato em ação para reverter esses números. Não adianta ficar postando no Twitter ‘#OrgulhoLGBT’ porque isso não é política pública. Isso é uma questão muito séria. Eu acho que seria melhor algumas pessoas se calarem em respeito, pelo menos 24 horas, do que fingir que fez alguma coisa. Oportunidade teve, mas faltou vontade política”. Nenhuma política pública foi feita para reverter esses índices”, abordou com ênfase o coordenador da Ceds.

Tufvesson cobrou empenho do Ministério Público no combate à transmissão de conteúdo homofóbico na televisão aberta. “É muito importante a ação do MP na questão de incitação ao ódio ao coletivo. Nós temos hoje na TV pessoas usando o princípio da liberdade religiosa, que de religioso pouco ou nada tem no conteúdo transmitido. O STF já se manifestou dizendo que o princípio da liberdade religiosa não pode ultrapassar o princípio da dignidade humana, não pode atentar contra minorias”.

Crimes que chocam

Na madrugada desta segunda-feira foi encontrado desfigurado dentro de uma vala no bairro de Lajes, em Paracambi, o corpo do professor Marcos Félix. Morador de Japeri, ele estava desaparecido há dois dias. Félix foi candidato a vereador na cidade e segundo ativistas, era um militante da causa LGBT. O caso é investigado pela DHBF (Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense)

Neste sábado, foi enterrado o homossexual Rhodney Peixoto, de 39 anos. O corpo estava há uma semana no Instituto Médico Legal, em Mesquita, na Baixada Fluminense. Ele estava desaparecido desde a última segunda-feira, quando enviou uma última mensagem para a família às 19h05. O corpo foi reconhecido pelos familiares na última sexta. O cabeleireiro foi morto com requintes de crueldade, com as pernas e os braços quebrados, tiros nos dois joelhos e socos nos olhos.

Também no último sábado, uma mulher transexual e um jovem homossexual foram mortos em Imbariê, Duque de Caxias. De acordo com testemunhas, uma pessoa em uma moto passou pela esquina das ruas onde os dois caminhavam juntos e efetuou os disparos. As vítimas morreram ainda no local, a poucos metros da 62ª DP (Imbariê). O caso foi transferido para a DHBF. Os nomes e as idades das vítimas ainda não foram divulgados pela Polícia.

Na sexta-feira, o corpo de Wellington Julio de Castro Mendonça, 24 anos, foi encontrado com sinais de apedrejamento no bairro de Olaria, em Nova Friburgo. Ele ainda sofreu cortes profundos no rosto e no pescoço e marcas de agressões por todo o corpo. Ao lado do jovem morto foram encontradas pelo menos cinco pedras. O caso é investigado pela 151ª DP. Amigos não têm dúvida que o motivo do crime foi homofobia.

Na manhã de quarta-feira, o corpo da travesti Lorran Lorang, 19 anos, foi encontrado enforcado com uma echarpe, na Praça da Liberdade, Centro Histórico de Petrópolis. A vítima foi encontrada por moradores da região, que chamaram a Polícia Civil para o registro da ocorrência. A polícia trabalha com duas hipóteses: suicídio – já que não havia marcas de violência contra a travesti – e homicídio. A perícia apontou que a jovem tentou se desvencilhar do echarpe durante o enforcamento.

Do O Dia