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Candidata a vereadora em Salvador, Larissa Moraes aposta no desejo coletivo de renovação

Genilson Coutinho,
29/08/2016 | 10h08

Em entrevista exclusiva ao Dois Terços, a presidente do núcleo LGBT  do PMDB e candidata a vereadora em Salvador, Larissa Moraes, contou o que pretende fazer, se eleita, na Câmara Municipal da terceira maior cidade do País. Criadora do Projeto Tire sua Bike do Armário, que agrega ativistas de diversas áreas, lideranças comunitárias e ONGs da capital baiana, Moraes tem como principal bandeira a luta em favor da comunidade LGBT, mas pretende também agregar à discussão a comunidade evangélica, católicos, candomblecistas, artistas e militantes. “Os ideais e objetivos da nossa candidatura é fruto de trabalhos realizados com associações, creches comunitárias, projetos sociais esportivos e, também, do desejo de construir marcadores legais que garantam e ampliem direitos das minorias sociais”, afirma.

Confira a entrevista completa:

Como nasceu o desejo de se candidatar?

Após perceber e se indignar com tantas injustiças e desigualdades que não apenas eu, mas milhares de outras pessoas passam de diferentes formas, eu e alguns amigos LGBT nos juntamos e resolvemos criar um grupo de apoio, onde pudéssemos trocar experiências, ter um espaço de acolhimento, convivência. Foi daí que surgiu, em 2013, o Movimento Tire Sua Bike do Armário, no qual debatemos o direito à cidade, a visibilidade e cidadania LGBT a partir de uma perspectiva de ocupação do espaço público e lazer.

A nossa atuação foi se ampliando e, além de pessoas LGBT, fomos alcançando outros públicos: mães de LGBT, lideranças comunitárias, profissionais, ativistas sociais, ONGs, creches comunitárias. A articulação e o desenvolvimento de projetos com essas pessoas e instituições, como também o atual cenário de violência e descaso institucional, me despertaram a necessidade de disputar os espaços de poder, pois são nesses lugares onde nossas vidas são decididas e devem ser também o lugar onde devemos estar. A nossa candidatura é fruto do desejo de pessoas LGBT, mães, pais, ativistas, lideranças comunitárias e pessoas que querem contribuir para diminuir as desigualdades e promover a paz através da disseminação do amor e da inclusão social.

Qual a importância de um representante LGBT no legislativo municipal?

A “Casa do Povo”, conhecida como Câmara Municipal de Vereadores, deve ser um local de todas(os), onde os representantes devem governar em prol do bem comum e da igualdade, buscando promover condições e possibilidades que promovam a inclusão e não a exclusão. Em Salvador, ainda nesse ano, a nossa casa retirou as questões de gênero e diversidade sexual do Plano Municipal de Educação, impedindo que professores, alunos, profissionais e familiares tenham a oportunidade de ter espaços de reflexão e desconstrução de preconceitos. Isso tudo vem acontecendo devido ao aumento da participação de grupos fundamentalistas no legislativo, elegendo representantes políticos que atuam disseminando ódio, intolerância e destruindo a esperança de uma sociedade justa e humana. Esses e outros retrocessos é fruto do preconceito, que vem gerando uma perseguição social escancarada contra nós, impedindo e limitando o nosso direito de ter direitos. É por esses e outros motivos que devemos reagir a esse avanço do ódio e eleger candidaturas comprometidas em representar os interesses e necessidades da população LGBT. Não queremos o poder pelo poder. Queremos o poder de amar, de viver dignamente. Existimos e merecemos direitos.

Você traz uma experiência muito grande na militância LGBT baiana. O que você pensa em trazer dessa vivência para Câmara? Você acredita que será eleita apenas com os votos dos LGBT?

A minha candidatura surge do desejo coletivo de renovação. Embora eu traga a bandeira LGBT como pauta central, isso não significa que a minha candidatura seja voltada apenas para esse segmento. Os ideais e objetivos da nossa candidatura é fruto de trabalhos realizados com associações, creches comunitárias, projetos sociais esportivos e, também, do desejo de construir marcadores legais que garantam e ampliem direitos das minorias sociais. Como se trata de uma candidatura composta por diversos setores (LGBT, ativistas, lideranças comunitárias, ONGs), não contamos apenas com os votos de pessoas LGBT para nos elegermos. O nosso programa político é plural e o nosso eleitorado também, basta olhar para a diversidade de pessoas que estão compondo a campanha: LGBT, heterossexuais, mães e pais de LGBT, lideranças comunitárias, pastores, católicos, candomblecistas, artistas, militantes. Todas(os) por uma Salvador livre de violências e desigualdades.

Quais são suas prioridades se for eleita vereadora em Salvador?

O enfrentamento às violências geradas por ódio, a qualificação dos serviços públicos, a luta pela manutenção e ampliação de benefícios e serviços sociais e a aposta em projetos de cultura, esporte e profissionalização, buscando promover condições de oportunidades para que situações como a violência e as desigualdades sociais sejam vencidas.

Cite alguns projetos que você deseja levar à Câmara. Um vereador gay poderia ajudar na luta contra o preconceito? Como?

Uma vereadora lésbica, gay ou travesti assumindo um compromisso com a bandeira e as reivindicações da população LGBT, na condição de legislador e também gestor da cidade, tem total condições de contribuir para a ampliação da nossa cidadania, para que as pessoas LGBT sejam vistas como humanas e possuidoras de direitos. Através de um mandato, podemos criar leis que criminalizem os atos discriminatórios, que obrigue a administração pública e ao poder executivo a executar políticas públicas que garantam a efetividade da nossa cidadania, principalmente das LGBT que precisam de assistência e amparo social. Dessa forma, pretendemos levar à Câmara projetos de leis que busquem criminalizar atos LGBTfóbicos promovidos por instituições públicas e/ou privadas; instituir o Fundo Municipal de Combate à Violência e Promoção da Inclusão de LGBT, buscando garantir recursos de forma segura e duradora para a realização das políticas municipais; viabilizar o acesso de pessoas LGBT em situação de vulnerabilidade aos programas e benefícios municipais, como os de moradia e profissionalização; criar o Conselho Municipal de Direitos da População LGBT, garantindo o controle e a participação da sociedade sobre a gestão das políticas públicas; articular emendas para a realização de cursos de formação continuada em direitos humanos para profissionais que atuam nos órgãos da assistência social e da Guarda Municipal. Estes são alguns dos projetos prioritários do nosso mandato.

Adoção, casamento homoafetivo e criminalização da homofobia estão na ordem do dia da comunidade LGBT. E no seu projeto ?

​Acredito que a LGBTfobia se manifesta de diversas formas. A violência física, a morte, a rejeição familiar, o bullyng na escola, o desemprego, o assédio no trabalho. Tudo isso são situações de preconceito, de violações. É por isso que focamos no enfrentamento à violência como pauta principal da nossa candidatura, porém acreditamos que, além da criminalização da LGBTfobia, precisamos garantir políticas de inclusão social, pois a população LGBT que mais sofre com a violência está em condições de vulnerabilidade social, como mostram os relatórios oficiais de governo. Não basta criminalizar (lembremos da criminalização do racismo), é preciso criar condições que reparem as mazelas e promovam equidade.

Quanto à bandeira da adoção igualitária, como todas as outras que sirvam para garantir igualdade, será levantada pelo nosso mandato, no qual buscarei fazer uma sensibilização juntos aos órgãos responsáveis pela adoção. O casamento homoafetivo já é uma realidade em todo o Brasil e vem cada vez mais sendo legitimado pela sociedade.