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Ator trans vive dilema entre ser fã de Harry Potter e não querer consumir jogo após transfobia de J.K. Rowling

Genilson Coutinho,
01/03/2023 | 18h03
Foto: Divulgação

Apesar de ter criado um universo mágico e muito famoso, J.K. Rowling, autora de Harry Potter, vem se envolvendo em polêmicas ao longo dos últimos anos, dentre elas inúmeras acusações de transfobia. Para o ator Dante Olivier, que é um homem trans, essa foi uma grande decepção, já que cresceu assistindo aos filmes originados pela série de livros.

Dante conta que a história teve influência direta na formação de sua personalidade, principalmente pela idade em que consumiu tanto os filmes quanto os livros. “Comecei a assistir ao filme quando eu tinha 5 anos de idade, foi um dos primeiros que vi no cinema. Sempre foi um momento lá em casa, todos se apaixonaram por Harry Potter. Na adolescência, meu pai me deu os livros e eu li também. Dos 5 aos 15 anos, fez parte da minha rotina, vivência, formou parte da minha personalidade e de quem eu sou hoje”, explica ele, que ficou desacreditado quando leu todas as declarações feitas por J.K.

“Primeiro foi um choque, estranho, difícil de acreditar. Esses dias estava revendo e você percebe nitidamente um discurso grande de inclusão, aceitação, de entender que temos lados ruins e bons, fala muito sobre posições, classes sociais quando mostra a questão de separar os bruxos de sangue puro e os que não têm” diz Dante. Em partes, ele sente que hoje é uma pessoa mais acolhedora e que abraça as diferenças graças à história. E reflete: “Como alguém que escreveu esse mundo tão complexo, acolhedor, dá esse tipo de declaração?”.

Recentemente, foi lançado um jogo que se passa dentro do universo de Harry Potter, o Hogwarts Legacy, desenvolvido pela Portkey Games, que afirma que a autora não se envolveu no desenvolvimento da história, mas ainda assim, receberá dinheiro pelo licenciamento dela, e isso se tornou um assunto delicado para os fãs da saga. “A verdade é que a gente gosta de Harry potter, sempre quisemos um jogo assim. Então, entendo que existe um lugar de nostalgia, de realização gigantesco. É um sonho que se tornou realidade. Entendo profundamente as pessoas quererem jogar, me pega muito no coração, porque eu queria viver tudo isso, sem peso na consciência. Mas, em mim, tem um bichinho no fundo da minha mente dizendo: ‘você sabe o que a JK fala de você’, e isso tirou o sabor do jogo, acho que isso é uma sensação minha mesmo”, desabafa.

Para ele, há uma responsabilidade social muito grande e é importante que as pessoas se posicionem dizendo que não querem dar dinheiro a ela, assim como ele fez. E embora não se possa dizer para jogar ou não, vai da cabeça de cada um. “Ela ganha dinheiro quando compramos qualquer produto licenciado de Harry Potter, um boneco, mochila, livro, quadro. Então, enquanto Harry Potter for relevante, ela vai estar ganhando dinheiro. Enquanto houver os produtos, ela vai ganhar dinheiro e eu não quero que ela ganhe dinheiro, mas ao mesmo tempo não quero que Harry Potter deixe de ser relevante, foi mágico para mim. É delicado e fico numa corda bamba louca dentro do meu coração, na minha cabeça”, conta o ator, que também é gamer, e acabou vendo algo do jogo, mesmo sem jogá-lo.

“Inevitavelmente tive contato porque abrimos a internet e tem coisas no Twitter, no Youtube, Tiktok, no Reels. Jogo é interesse meu, então sempre aparece sugestão e vem o jogo. Mas não fui atrás, vi por alto coisas nas minhas timelines da vida”, finaliza. Dante frisa, mais uma vez, que não vai jogar, mas que também não julga quem fizer ou está tentando dizer a alguém o que é certo ou errado. É apenas algo com o qual ele não concorda.