Comportamento

HIV em pauta

Saúde

Após um ano de pandemia, Eduardo Barbosa, segue no ativismo e aguarda segunda dose da vacina

Genilson Coutinho,
28/02/2021 | 21h02

No início da pandemia do coronavírus, a Agência Aids publicou vídeos de ativistas contando como estavam vivendo, enfrentando o isolamento social e o que estavam fazendo para colaborar na luta contra a Covid-19. Eduardo Barbosa foi uma dessas pessoas.

Professor, ativista e entusiasta da vida, Eduardo Barbosa descobriu seu diagnóstico positivo para o HIV em 1994, época em que o tratamento contra aids era bem crítico. Chegou na militância contra a aids na primeira década da epidemia, quando conheceu o GIV (Grupo de Incentivo a Vida de São Paulo), ONG dirigida e voltada para pessoas com HIV/aids.

Defensor do SUS, ele sempre buscou atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde. Em 2001, foi eleito presidente do Fórum Estadual de ONGs/Aids de São Paulo, onde trabalhou o advocacy e o ativismo, ampliando a articulação política das ONGs entre elas e com os governos. Eduardo também atuou no governo. Trabalhou no Programa Nacional de DST e Aids, do Ministério da Saúde, como responsável adjunto da Unidade de Articulação com a Sociedade Civil e Direitos Humanos, atuou na construção de estratégias para o enfrentamento à discriminação e ao preconceito, em atividades de prevenção e com ações junto a populações vulneráveis.

Foi diretor-adjunto do antigo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Hoje é integrante do Grupo Pela Vidda de São Paulo e coordenador do Centro de Referência e Defesa da Diversidade de São Paulo.

No depoimento abaixo, Eduardo conta como está sua rotina e como se sente um ano após um ano de pandemia.

“Nós estamos quase completando um ano do início da pandemia e bastante coisa se modificou nas nossas vidas. O principal é a questão de não conseguirmos mais estar próximos das pessoas queridas, de abraçar, de poder fazer reuniões presenciais. Nesse período, de março de 2020 pra cá, nós tivemos uma ampliação das necessidades das pessoas com as quais eu trabalho e, diante dessas necessidades, a gente não parou, não conseguiu parar efetivamente pra manter esse isolamento, esse distanciamento social.

Procurei ao longo desse tempo todo manter o rigor das medidas preventivas possíveis, mas ao mesmo tempo segui em frente com todas as atividades que eu desenvolvia. Nesse período acho que até aumentou a demanda pelo trabalho, mas também foi um período que me possibilitou fazer uma volta a mim mesmo, para pensar naquilo que eu vivo, que eu acredito. Na maior parte das vezes, essa coisa do dia corrido que a gente tem, impossibilita estar consigo mesmo. Um grande tempo da pandemia, eu pude olhar um pouco mais pra mim, olhar um pouco mais para a minha saúde e para as minhas necessidades.  

Por vezes, como ativista, a gente se coloca um pouco como imbatíveis ou imunes a uma série de outras coisas que as pessoas passam. E não estamos. Vivi momentos de depressão, de angústia, de incertezas, mas também momentos de reencontro, de aproximação virtual com amigos antigos, pessoas com quem eu já não conversava, cuidados com as minhas plantas, com a minha casa, com a minha saúde.

Uma das coisas mais incríveis que aconteceu comigo nessa fase foi a adoção de um “peludo”, o Napoleão, que foi herança de um amigo que faleceu em decorrência da Covid-19. Eu nunca imaginei que esse peludo fosse transformar a minha vida de uma tal forma. Nesses momentos mais angustiantes, tristes, Napoleão tem sido um grande companheiro, um grande parceiro que me traz alegrias que me faz brincar e que me faz sorrir. Isso foi muito legal.

Neste momento, eu acho que a gente está caminhando para uma complicação da pandemia e traz pra gente mais incerteza e insegurança. Por conta de trabalhar na área da saúde, eu já tomei a primeira dose da vacina, mas isso não me traz garantias de que eu esteja totalmente protegido contra a covid-19. Seguimos em frente. Não dá pra gente perder a esperança e muito menos atuar diante daquilo que a gente acredita.”

Reveja o depoimento de Eduardo Barbosa em 2020.

Agência AIDS