Apenas Desconhecidos Por Guto Angélico

Genilson Coutinho,
26/07/2013 | 10h07

Como dizia Bukowski: “A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.”

Esse trecho martela na minha mente desde que acordei! Daria um texto, uma crônica ou qualquer coisa, mas estou sem tempo.

Já eram 17h30min e ainda tinha que comprar um presente para o meu melhor amigo. Sem falar no trânsito infernal que teria que enfrentar. Não sei por que sempre deixamos as coisas para o último minuto. Ou talvez tenhamos habilidade de deixar coisas inacabadas só para ter algo na lista de coisas a se fazer. É aquele relatório, as compras de mês, o presente do amigo que por falar nisso não encontrei. Tinha que correr para ir à academia e mais mil e um compromissos que parecia estar encarnado na secretária da Miranda Priestly. E até levei um esbarrão e com ele uma voz familiar.

Não me mexi! Seis meses sem noticias, morando no mesmo bairro, tendo amigos em comum e me esbarro com ele logo ali. Minha reação foi ficar sem reação. Respondi educadamente e segui o meu caminho. Quantas vezes imaginei esse dia? A gente cria toda uma cena na mente e ensaia tanto que quando o dia chega à gente trava. Já me imaginei xingando, batendo, pondo tudo que estava entalado para fora, remoendo as mágoas, me mostrando superior e nada fiz.

O olhar era diferente. Não tremi, não senti raiva, não me excitei ao sentir seu perfume, não senti nada. Cadê aquela cena teatralizada de “Someone like you”? Foi estranho, foi recompensador, de certa forma foi libertador.

Amamos a ideia de termos alguém para toda a vida, não necessariamente quem faz parte dela. Talvez a gente ame um belo romance, daqueles de filme, que você dá a própria vida e sofre por anos se culpando de não ter dado certo e esperando aquela volta que a vida dá para ou ficarmos juntos de novo ou esfregarmos na cara do outro um novo amor. Mas a vida não é um filme da Sofia Coppola cheio de referências bem nítidas e perturbadoramente adoráveis. Compramos a idéia não o conteúdo do produto.

E quando nos damos conta que não há sentimento algum dentro da gente e que foi tudo fruto da nossa mente é como voar ou pelo menos a sensação que achamos que se deva sentir ao voar. Alivia! É um empurrão para o novo por mais que você já o esteja vivendo e intensamente.  E não você não está ficando louco! Você não amou! Ou pode ser que tenha amado e de certa forma o sentimento morreu e aquela sua fase de luto deu lugar a indiferença.  É como passar uma borracha no passado e ter dificuldades para lembrar sem esforço ou regrinhas de superação.

Se vocês tivessem se encontrado hoje pela primeira vez (mesmo apagando todo o histórico) vocês nunca teriam sido um casal ou qualquer rótulo semelhante. Não teria química, vigor, semelhanças e, sobretudo atração. Hoje são desconexos, opostos, estranhos. Talvez fossem meros conhecidos, mas são apenas desconhecidos.

E isso me lembra de quem me apresentou Bukowski. Que tem barba, que me deixa bobo e que por sinal deve estar lendo Stephen King enquanto o interrompo mandando mensagem contando que não finalizei Bukowski. Será que serve Stanilavski?

Foto: Linda Fernandes

Por Guto Angélico

 Guto Angélico – 26 anos, formado em Turismo. Escreve desde os 7 anos. Foi Apresentador e roteirista do programa Tricotados. Assinou Colunas nos sites Gay1 e Somos Todos Iguais onde teve textos traduzidos para outras línguas. É autor do espetáculo musical : Way – Apenas Jovens.