Anti-retrovirais reduzem em 92% o risco de transmissão do HIV

Genilson Coutinho,
28/04/2012 | 11h04

A secretária do Estado norte-americano, Hillary Clinton, aproveitou o primeiro dia de Dezembro, dia da luta contra Sida no mundo, para fazer o anúncio desta novidade…

Esta informação foi avançada por uma fonte da Embaixada Americana, aquando da visita do embaixador para o HIV-Sida no mundo, Eric Goosby, ao nosso país.

Na verdade, o estudo que chega à conclusão avançada pela secretária do Estado norte-americano já circula na Europa.

Recentemente, uma revista britânica, The lancet, publicou um artigo a afirmar que “houve uma redução surpreendente de 92% no risco da transmissão do vírus da SIDA por pessoas com HIV que tomavam medicamentos anti-retrovirais, segundo os resultados de um estudo feito nos Estados Unidos da América”.

A pesquisa, liderada por Deborah Donnell, da Universidade de Washington e do Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seattle, apresenta as evidências mais fortes obtidas, até ao momento, de que os medicamentos utilizados para tratar o vírus da imunodeficiência humana também poderiam ser incorporados em estratégias de contenção da disseminação do HIV.

Segundo o artigo da revista The Lancet, os médicos envolvidos nesse estudo recrutaram 3 381 casais heterossexuais em sete países africanos.

Cada casal era “serodiscordante,” ou seja, apenas um dos parceiros é que estava infectado por HIV e o outro não.

349 indivíduos receberam medicamentos anti-retrovirais a partir do momento em que o seu sistema imune, conforme a contagem de células CD4, ficou abaixo de um determinado nível. Os demais indivíduos infectados receberam um comprimido sem efeito, chamado tecnicamente de placebo.  Os pesquisadores colectaram amostras de sangue dos/das parceiros/as dos indivíduos infectados a cada três meses para verificar se também passaram a ser infectados/as. O estudo foi monitorado de perto por um comité de ética, e incluiu um curso de capacitação em sexo seguro bem como acompanhamento médico de rotina.

Após 24 meses, 103 pessoas que não tinham HIV no início da pesquisa haviam sido infectadas com o vírus por seus parceiros.

Contudo, apenas uma destas 103 transmissões foi causada por um parceiro que estava em tratamento anti-retroviral.

Os resultados foram confirmados por genotipagem (genetic fingerprinting) do vírus, para demonstrar se foi transmitido pelo parceiro infectado ou por alguém que não estava a participar da pesquisa.

Em suma, estar em terapia anti-retroviral (TARV) reduziu em 92% o risco de infectar outra pessoa, uma redução enorme que destaca o potencial destes medicamentos como uma arma na prevenção do HIV, em vez de simplesmente utilizá-los para tratamento, afirmam os autores.

“Disponibilizar TARV a pacientes infectados com o HIV-1 talvez seja uma estratégia eficaz para conseguir a redução da transmissão do HIV-1 em populações inteiras,” afirma o artigo. O HIV-1 é a cepa mais comum do vírus de SIDA.

Acesso ao TARV no país ainda é fraco

Esta informação aparece numa altura em que, em Moçambique, maior parte das pessoas infectadas pelo vírus do Sida, que necessitam do tratamento, ainda não tem acesso aos anti-retrovirais.

Ou seja, cerca de 1 700 mil pessoas vivem com vírus no país. Deste número, cerca de 600 mil necessitam de tratamento anti-retroviral. Porém, o Estado só consegue, até este momento, tratar cerca de 250 mil doentes, deixando perto de 400 mil fora do sistema.

Noticia Publicada no O Pais em dezembro de 2011