Amor de mãe :Descobri que meu filho é gay. E agora?

Genilson Coutinho,
12/05/2013 | 14h05

Edith Modesto é escritora, professora universitária e pesquisadora, mestra e doutora em Semiótica francesa pela USP, terapeuta, especialista em diversidade sexual e questões de gênero e escritora de livros de ficção juvenil para 5 editoras. Em 1992, descobriu que o caçula de seus sete filhos (seis homens e uma mulher) é homossexual. Desesperada, sentindo-se muito só e completamente ignorante sobre a questão, ela procurou outra mãe como ela para conversar e não encontrou.  Em 1997, Dra. Edith começou sua pesquisa sobre “diversidade de orientação sexual” e formou um pequeno grupo de mães de homossexuais, também para que outras mães tivessem o que ela não teve. Até 1999, o grupo não passava de quatro mães, que se encontravam em sua casa. Em 1999, o grupo virtual foi fundado e o GPH começou a crescer, principalmente porque Edith criou coragem para divulgar sua existência na mídia. Agora, ela fala ao Dois Terços sobre família e aceitação.

Edith Modesto e o filho Marcello. Para compreendê-lo melhor, Edith fundou o GPH

Dois Terços: O Grupo de Pais de Homossexuais (GPH) é uma referência no âmbito das famílias de jovens gays do Brasil. Como nasceu a ideia da criação do grupo?

 Edith Modesto: Logo depois que soube que o meu filho caçula é gay, eu quis muito conversar com outras mães como eu, mas não consegui encontrá-las. Assim, tive a ideia de fundar um grupo de pais para que pudéssemos conversar uns com os outros. O grupo é baseado na identificação entre os pais e tudo que conversamos é confidencial.

 

DT: Como tem sido nos últimos tempos a aceitação dos pais ao descobrirem que seu filho é LGBT? Ainda há muitas resistência?

EM: Infelizmente, no primeiro momento, a aceitação dos pais da homossexualidade de seus filhos é ainda muito difícil. Penso que a família é o último reduto de aceitação e ainda demora um pouco para que os pais sintam que ter um filho gay é natural como ter um filho heterossexual, embora os gays sejam em menor número.

 

DT: Nas comunidades carentes e periferias do Brasil, muitas famílias afirmavam que preferem um filho ladrão a um filho gay. O GPR realizar algum tipo de trabalho com essas famílias?

EM: Justamente trabalhamos com a dificuldade de aceitação dos pais e com a dificuldade de autoaceitação dos jovens homossexuais. O nosso trabalho com pais e com jovens é para unir as famílias.

 

DT: Os  pais encontram no grupo o amparo para dar suporte aos filhos diante dos novos desafios seja no circulo família, escolar e principalmente no convívio com o preconceito. Como é feito o trabalho com esses pais que vão até  o grupo?

EM: Temos reuniões mensais em São Paulo e em outras capitais, moderadas por “mães facilitadoras”. Na verdade, é uma terapia de grupo, além de um encontro de socialização, para que as mães e pais se conheçam e tornem-se amigos. Muitas vezes, os pais nos procuram e, além dos encontros presenciais, temos também a possibilidade do grupo virtual. Muitas vezes são as/os filhas/os que nos procuram e nós entramos em contato com a mãe, usando uma estratégia que temos desenvolvido nesses últimos 20 anos.

 

DT: As mães sempre são mais flexíveis para tratar deste assunto na maioria dos casos. E o pai, como tem se comportado face as cobranças do seu círculo de amigos. E a herança machista da sociedade brasileira?

EM: Geralmente, o processo de aceitação se inicia com as mães. Apesar de suas dificuldades, elas dão o tom da aceitação à família. O processo das mães é mais longo do que dos pais, já que as mães, geralmente, são mais emoção do que razão. Por outro lado, os pais, principalmente de garotos, têm dificuldade, mas, quando vêem que não tem jeito eles aceitam, sem querer conversar mais sobre o assunto.

 

DT: No mês de outubro, a senhora ganhou o prêmio de melhor tese na Universidade de São Paulo, cujo tema foi o preconceito e a intolerância contra homossexuais. Como a senhora tem visto esses debates dentro da academia? Ainda existem muito professores resistentes ao tema LGBT?

 EM: Na academia, eu não vejo grande dificuldade com o assunto. Mas poucos o tomam como objeto de pesquisa. Além disso, costuma haver no Brasil uma dificuldade de construir uma ponte entre a academia e o social. Foi o que tentei fazer com a minha tese. O corpus veio do meu trabalho de campo com mães e com jovens homossexuais.

 

DT: Perdi meu filho e não terei um neto – essas são afirmações comuns entre as mães dos gays quando descobre a orientação do filho. O que dizer para essas mães nesses momentos?

EM: Mostramos que, pelo contrário, aquela mãe ganhou um filho, pois ela amava alguém que não era o filho dela, pois amava um jovem heterossexual, etc. Sobre netos, muitos filhos héteros também não nos dão netos. Além disso, muitos gays têm filhos, biológicos ou adotados. Conforme está no meu livro “Mãe sempre sabe?”, essas são fases difíceis do início do processo de aceitação dos pais, mas que vão passar, como as outras fases, porque o amor vence!

Veja aqui onde  encontrar maiores informações sobre o assunto.

Contatos:

www.gph.org.br

(11) 3031 2106 (c/ Edith)

 

elmodesto@uol.com.br (Edith)

 

mães-de-homos@uol.com.br (grupo de pais)