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Aluno da UFRJ é encontrado morto dentro do campus do Fundão, Rio

Genilson Coutinho,
03/07/2016 | 11h07

Um aluno da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi encontrado morto na noite deste sábado (2), no Campus do Fundão, na Zona Norte da cidade. De acordo com informações da Delegacia de Homicídios da Capital (DH), Diego Vieira Machado, nascido em Belém (PA), foi encontrado morto às margens da Baía de Guanabara, na Ilha do Fundão. Ele cursava o arquitetura, após ter passado pela faculdade de letras.

A Polícia Militar afirmou que foi chamada na noite de sábado (3) para verificar uma denúncia e encontrou o corpo do jovem. Perícia detalhada foi realizada no local e o trabalho de investigação foi iniciado para apurar de forma detalhada a dinâmica do fato que vitimou o aluno da UFRJ e identificar os envolvidos. Diego morava no alojamento dos estudantes, perto do local onde foi morto.

Pérola Gonçalves, amiga de Diego e aluna da UFRJ, acredita em crime de ódio: “Ele era o meu melhor amigo. A gente se conhecia há menos de um ano, mas nos falávamos toda hora, durante todo o dia. Nós estávamos sempre juntos. Acho que possa ter sido um crime de ódio, homofobia e racismo. Ele era negro e tinha uma sexualidade ampla, se relacionava com homens”.

Segundo a amiga de Diego, ele era alto e forte e foi encontrado com marcas de luta e sem as calças. “Ele sabia se defender e não acredito que tenha sido um crime de uma pessoa só. Ele lutou judô pela UFRJ e treinava kung fu. Ele já havia sofrido ameaças, dentro e fora do alojamento. Já foi zoado por ser nortista. Chamavam ele de Paraíba”, contou Pérola.

Na página do Diretório Central dos Estudantes Mário Prata em uma rede social, alunos reclamavam da falta de policiamento na região e afirmavam que tem medo de caminhar pela área inclusive durante o dia. O DCE se manifestou em uma nota de pesar pelo estudante e pedindo mais segurança no campus.

“Na noite do sábado, dia 2 de julho de 2016, foi encontrado um corpo com sinais de espancamento na Ilha do Fundão. Um corpo de um jovem, negro, LGBT, morador do alojamento e estudante da UFRJ. Este jovem é Diego Vieira Machado, veio do Norte do país para fazer o curso de letras e pretendia pedir transferência para a EBA, trazendo consigo tantos sonhos. É um momento muito duro para todos e todas estudantes da UFRJ. Um de nós se foi. Não podemos deixar de denunciar a falta de segurança, a situação de vulnerabilidade e violações de direitos que os moradores do alojamento estão submetidos diariamente. Precisamos de mais segurança! Segurança para podermos circular no campus sem o medo de ter não apenas nossos pertences furtados, mas nossos corpos e vidas violentadas”, afirma a nota do DCE Mário Prata, seguida por um poema feito por uma amiga de Diego.

O DCE Mário Prata divulgou nota de pesar sobre a morte de Diego em uma rede social (Foto: Reprodução/ Facebook)

A UFRJ também divulgou nota sobre o caso: “Com profundo pesar, comunicamos a morte de Diego Vieira Machado, estudante do curso de letras da UFRJ. A Reitoria se junta aos amigos e familiares do estudante neste momento de dor, e informa que acompanhará de perto as investigações sobre o caso junto às autoridades policiais. A família de Diego, residente no Pará, foi informada pela Reitoria sobre seu falecimento neste sábado, 2 de julho. Oportunamente, serão divulgados o local e horário do sepultamento.

Repercussão

No fim da tarde, o Instituto Rio Sem Homofobia, ligado ao governo do estado, divulgou nota sobre o caso em rede social e informou que vai acompanhar o caso na DH. “Recebemos nesta amanhã, a comunicação de mais um assassinato de um jovem gay, encontrado morto ontem à tarde [sábado, 2] no Campus do Fundão da UFRJ. Segundo informações, trata-se de um aluno cotista, estudante de Belas Artes e natural de Belém do Pará. Os amigos denunciaram para o Programa Rio Sem Homofobia que, dias antes do crime, os estudantes cotistas receberam ameaças de grupos conservadores da universidade. De acordo com a denúncia, as ameaças foram endereçadas a negros e gays. Já encaminhamos as informações para a Polícia Civil”, informou o Instituto em nota.

De acordo com o Instituto, quem tiver mais informações que possam ajudar nas investigações pode entrar em contato com o Disque Cidadania LGBT pelo telefone 0800 0234567.

Já a Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual, da prefeitura do Rio, informou que se solidariza à família de Diego: “Estamos de luto. É preciso ficar alerta com o aumento dos crimes de ódio contra LGBT nos últimos dias”.