Acho que meu filho é uma criança LGBT. Como devo proceder?

Genilson Coutinho,
08/09/2020 | 16h09

Acolher, ouvir e conversar. Essas são as atitudes recomendadas aos pais de crianças e de adolescentes LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais ou transgêneros, queer, intersexo, assexual e demais possibilidades de orientação sexual ou de gênero), segundo a sexóloga Ana Canosa, apresentadora do podcast Sexoterapia. Ela chama atenção para a estatística segundo a qual a população LGBTQIA+ tem de 2 a 4 vezes mais chance de cometer suicídio, principalmente pela não aceitação da família e dos pais. “O fato de abraçar e acolher seu filho já garante a ele saúde emocional”, afirma.

Foi exatamente o que fez a artista plástica Rafa Mon, 40, quando seu filho David, que na época tinha 10 anos, assumiu que gostava de se vestir com roupas femininas, se sentia atraído por meninos, mas não se identificava com nenhum gênero, mesmo sem entender muito bem o que aquilo tudo significava. “Eu nem sabia direito a diferença entre gênero e orientação sexual”, relembra.

Rafa conta que já tinha notado os sinais que o filho dava desde muito cedo de que não se identificava com o universo masculino, e que sempre se manteve aberta, sem repreendê-lo por querer brincar com brinquedos que a sociedade atribui a meninas, ou por não querer cortar o cabelo nem ir às aulas de jiu-jitsu, por exemplo. Outra atitude recomendada por Ana. “É importante ouvir a criança, perguntar o que ela sente, do que ela gosta, tentar entender as informações que ela traz sobre o corpo dela, se aceita, se nega, enfim, ser mais curioso, e não tentar forçá-la a nada”, aconselha.

A sexóloga lembra ainda o fato de uma criança brincar com brinquedos atribuídos a um gênero diferente do dela (meninos gostarem de brincar de boneca ou meninas, de carrinho, por exemplo) ou querer experimentar peças do vestuário do gênero oposto não significam que a criança seja transgênero. “Um menino pode querer passar batom por pura curiosidade, típica de qualquer criança ou estar insatisfeito com o corpo porque isso é típico de adolescente”, diz Ana. “Temos que observar e dar liberdade, abertura, para que a criança experimente. A percepção da transexualidade vem com o tempo e não é simples”, diz Ana.

E caso a criança ou adolescente realmente venha a se descobrir transgênero, o papel dos pais é dar suporte para essa transição social, e não achar que perderam esse filho, segundo Ana. Ela cita um estudo que faz uma comparação entre a vivência do luto de pais de crianças e adolescentes transgênero e a de pessoas que têm pais com Alzheimer, o chamado “adeus sem partir”. “Essa percepção é um engano. A criança ou o adolescente pode mudar de gênero, mas continua sendo a mesma pessoa”, explica.

Rafa diz que depois que se entendeu e se mostrou como uma criança não-binária e gay David se tornou muito mais feliz. “Depois que ele começou a colocar as roupas que ele queria e se portar da maneira que ele achava que deveria parece que ele saiu duma caixinha”.

Fonte: UOL