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Acham que sou uma menina: (des)construindo gênero com a série Flapjack

Genilson Coutinho,
01/04/2016 | 19h04

Carlos Henrique Pereira Franco

Quando eu assisto uma série animada como a do Flapjack, originalmente conhecido como “The Marvelous Misadventures of Flapjack” (no Brasil, As Trapalhadas de Flapjack), produzido pelo Cartoon Network Studios, me deixa otimista em acreditar que existem produções animadas que conseguem promover uma reflexão crítica sobre um determinado tema, muitas vezes do cotidiano, e consegue abordar de uma forma que desconstrói alguns estereótipos que circulam no imaginário social, principalmente sobre gênero e sexualidade.

Assim como no episódio intitulado de “falta alguma coisa”, protagonizado pelo ilustre Flapjack, algumas crianças sofrem uma pressão social por não se enquadrarem nos parâmetros de normalidade e padrões estabelecidos socialmente. Inclusive, por não atenderem a esse ideal de masculino ou feminino tido como norma. É notório o surgimento de condições favoráveis para a disseminação do preconceito que, consequentemente, engendra atos de discriminação e violência, reforçando o estigma social associado aos comportamentos não alinhados a um padrão hegemônico. “Aceitar” esses comportamentos é socialmente intolerável – porque foi imposto que meninos e meninas possuem brinquedos específicos alinhados ao seu “sexo” – guiados pelo viés biológico/genital – e um modo singular de se comportar socialmente. Antes mesmo de nascer, a criança já se encontra imersa nessa norma que vai estabelecer, melhor, determinar, comportamentos que são considerados adequados/esperados para cada “sexo”, disseminando essa lógica binária (masculino ou feminino). A partir daí são criadas uma série de expectativas em relação ao bebê que está por vir: menina ou menino? definindo cores de vestuários, a decoração do quarto, a escolha dos brinquedos etc.

A mensagem mais importante que quero deixar diante dessas colocações é: o modo que as crianças brincam e se relacionam com outras crianças e com o mundo, não é o modo carregado de preconceito(s) e repulsa pela diversidade, norteado por uma bagagem (não somente) conservadora que alguns adultos possuem. A única preocupação que se deve ter é: até que ponto essas tentativas de enquadrar essas crianças LGBTs a uma norma – que não contempla outras possibilidades a não ser a heterossexual cisgênero – prejudica no seu processo de desenvolvimento? O quanto é adoecedor para uma criança ser segregada e violentada em seu meio familiar e social por não se sentir pertencente a essa norma? O caminho para se pensar nessas indagações é de permitir que a liberdade seja a única essência dessas crianças. De não permitir que nada as/os limite ou as/os definam. É deixar que as crianças sejam protagonistas e nós, adultos, apenas mediadores.

 

Carlos Henrique Pereira Franco

Graduando em Psicologia

Integrante do Núcleo de Estudos e Formação em Saúde – NEFES

Pesquisador no campo da Adolescência, Gênero e Sexualidade