A nova onda – heterofobia em tempos atuais

Genilson Coutinho,
02/08/2011 | 09h08

Movimento de Orgulho Hétero (MOH). Esse é o nome dado a um grupo de estudantes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em Cachoeira. O grupo afirma enfaticamente a presença de “Heterofobia” no Centro de Artes, Humanidades e Letras, conhecido, no senso comum, como o centro mais gay da universidade. Desde o seu surgimento, o MOH (sigla do grupo) iniciou uma grande discussão sobre a existência de preconceito contra a HETEROSSEXUALIDADE. A isso valem algumas considerações sobre o tema.

Frequentemente, o debate sobre o preconceito contra homossexuais e mulheres é tema em diferentes níveis da sociedade. Seja nos meios de comunicação, na política nacional e nos movimentos sociais, o tema é respaldado pela luta histórica contra a opressão e a discriminação. É um debate histórico e cultural, no qual a heterossexualidade é compreendida como “situação” natural da humanidade. Ainda pensam que nascemos marcadamente homens e mulheres, que somos definidos pelo desejo do sexo oposto, nascemos presos a um ‘determinismo chamado heterossexualidade’.

Aos homossexuais, cabe o lugar contrário. Somos demarcados como sujeitos detentores de valores promíscuos, imorais, doentios e sem pudor. A homossexualidade é um desvio da norma, da “naturalidade humana heterossexual”. A divisão social da sexualidade é pautada pela dicotomia heterossexual/homossexual, resguardando o local da legitimidade heterossexual em detrimento da anormalidade homossexual.

A homofobia é a aversão e o preconceito, institucionalizado em nossa sociedade, contra qualquer prática que revele a presença de homossexualidade em espaços da vida social. Assim, quem pratica homofobia é homofóbico. A homofobia é uma prática perpetuada em nosso cotidiano, transformando as vidas de gays, lésbicas, travestis e transexuais, tornando nossa vivência marcada pela lógica da violência simbólica e material sobre nossos corpos. Mortes, atrocidades e espancamentos já fazem parte do circuito homofóbico de nossa sociedade, e isso é um fato incontestável: homossexuais sofrem HOMOFOBIA cotidianamente.

Frente a essa realidade, grupos e coletivos de diversidade sexual são criados em busca da problematização e conscientização contra esse fenômeno social que é a homofobia. Os movimentos sociais organizados falam mais em respeito às diferenças e a igualdade de gênero na sociedade, fato que revela a maturidade e a consciência de uma sociedade que busca o pluralismo e a diversidade sem opressões.

Como é caracterizado o preconceito em relação à norma? O espaço “legítimo” das relações heterossexuais estaria passando por um processo de questionamento em relação a “naturalidade do sexo e do gênero?” Mesmo com essa possibilidade, é possível questionar o que é “normal”? Existiria mesmo um preconceito contra a norma heterossexual? HETEROFOBIA? Todo esse discurso esquizofrênico nos faz lembrar do deputado federal Jair Bolsonaro, pretenso patrono do MOH.  Estariam os oprimidos oprimindo a “normalidade” heterossexual?

O MOH se utiliza de uma perspectiva de reiteração da norma, da heterossexualidade compulsória de nossa cultura. Orgulhar-se de ser heterossexual não é um problema, mas utilizar o discurso de reiteração da hegemonia só faz revelar a construção de um movimento reacionário e intolerante. Quais são as plataformas políticas de um movimento que busca reiterar o orgulho de um determinado grupo e a não convivência entre os diferentes?

A diferença é uma categoria incômoda para aqueles que se orgulham de algo. Afinal, o orgulho está embasado na restrição de determinados valores que constituem os sujeitos, ou melhor, os diferentes devem estar longe, devem ficar no lugar do contraditório, do erro, da aberração social.

Pois bem, enquanto alguns pregam o orgulho de serem héteros, os movimentos sociais sérios buscam o respeito ao outro, querem o diálogo entre as diferenças, enaltecem a pluralidade de olhares, lugares e pessoas. Mas, me questiono nesse momento: seriam todos heterossexuais iguais? Estariam eles em busca da identidade social que demarca todos os movimentos sociais? Como é difícil ser “heterossexual” em tempos de questionamento das masculinidades e feminilidades. Presos em seus discursos vazios, o MOH não apenas nasceu morto, mas está mortificando, ainda mais, a ideia tão fixa de que a heterossexualidade é natural.

Julio Sanches*

* Graduando de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, integrante do Coletivo Aquenda de Diversidade Sexual e do grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade (CUS/UFBA).