6ª Edição do Festival Viva Dança começa neste domingo

Genilson Coutinho,
01/04/2012 | 12h04

Traduzir um texto, livro, filme ou uma peça de teatro é tarefa das mais difíceis. Devido a diversos fatores, como os jogos de palavras e contextos específicos de cada cultura. No campo das artes, algumas formas de expressão escapam um pouco do risco de imprecisões. Uma delas é a dança. Diferenças de sotaques, gírias regionais e línguas nacionais se dissipam na fluidez de uma linguagem universal, a do corpo – e suas extensões.

É o que mostrará a sexta edição do Vivadança Festival Internacional, que recebe na cidade, durante o mês de abril, companhias de vários estados e de 18 países.  A programação – com espetáculos, mostras, oficinas, debates, exibições de vídeos e intervenções – começa amanhã, com apresentação da mineira  Mimulus Cia de Dança, às 20h, no Teatro Vila Velha, Passeio Público.

No mesmo dia e local, também começam as atividades do Coletivo VISIO, com pinturas de espaços do teatro; e a exposição Viladança 18 x 4, do fotógrafo João Milet Meirelles. Todas as apresentações e formulários de inscrição nas atividades estão disponíveis no site www.festivalvivadanca.com.br.

Bispo do Rosário

Pela primeira vez, parte dos espetáculos do Vivadança sai da Bahia. Um recorte da programação será levado para Belo Horizonte e Brasília, em maio. Diretora artística desde a primeira edição do festival, em 2007, a baiana Cristina Castro, 49 anos, destaca a diversidade de estilos, propostas e nacionalidades que estarão em cartaz  até 29 de abril em Salvador.

Cristina, que também é a idealizadora do Vivadança, aponta alguns destaques da edição 2012. Um deles é a Mimulus Cia de Dança, que traz a coreografia Por um Fio, inspirada na vida e obra do sergipano Arthur Bispo do Rosário (1909–1989), que ficou décadas internado em uma instituição mental e teve uma produção artística reconhecida internacionalmente.

“O trabalho que eles fazem é incrível, fazendo pesquisas e misturando a dança contemporânea com a tradição da dança de salão”, afirma a diretora artística.

Segundo o dançarino Rodrigo de Castro, 27, da Mimulus, a escolha de Bispo como tema possibilitou ao grupo mineiro o contato com universos desconhecidos. “Foi desafiador e estimulante trabalhar com o conceito dos fios, dos emaranhados”, explica, citando materiais usados nas obras do sergipano.

Circulação

Outro nome de destaque no cenário internacional que marca presença  no festival é o coreógrafo caribenho José Chalons, da Martinica. Nos dias 28 e 29 de abril, ele apresenta Passage, uma coreografia que mistura elementos de danças de origem africana com a tradicional dança butoh, do Japão. Depois, Chalons segue na itinerância para Belo Horizonte.

Levar os espetáculos para outros estados era meta antiga de Cristina. “É preciso criar uma rede de circulação, que é um dos pontos críticos da dança no Brasil”, avalia.

Ela cita impeditivos diversos: a extensão do país, os altos custos, a efemeridade da expressão (“a dança é essencialmente presencial, não é como o cinema”).

A baiana critica ainda a falta de estrutura das cidades brasileiras, carentes de espaços apropriados para receber as companhias de dança. Os teatros, continua Cristina, geralmente ficam afastados das periferias.

Tentando minimizar tal situação, o Vivadança destina gratuitamente 40% dos ingressos para escolas públicas, ONGs e outras instituições. O festival captou R$ 1 milhão via leis de incentivos fiscais estadual (Fazcultura)  e federal (Rouanet). Em 2011, o público total que prestigiou o evento foi de 14 mil pessoas.

Frescor

O conjunto de espetáculos dessa edição casa  temáticas e linguagens bem distintas. Em 28 Years in 28 Minutes, o alemão Storm aborda sua própria trajetória na profissão. “Quando você vê dançarinos nos palcos, geralmente vê figuras heroicas, em ótima forma. Em 28 Years in 28 Minutes, você vê o ser humano por trás disso”, afirma Storm, que se apresenta no dia 23.

Para o coreógrafo espanhol Chevi Muraday, 52, diretor da companhia Losdedae, a dança contemporânea brasileira é reconhecida por aliar sensibilidade e técnica. “O Brasil é um país enorme e isso leva cor e frescor para a cena internacional”, acredita. Um dos dançarinos da Losdedae, Maximiliano Montes é brasileiro. Em Salvador, eles se apresentam,  terça e quarta, às 20h, no Vila Velha. Punto Ciego trata da incapacidade de algumas pessoas de ver, sentir e compreender as coisas.

Outro destaque apontado por Cristina  é a companhia Dafi Dance, de Israel. Formado por mulheres e mostrando o olhar feminino para temas universais, aborda temas díspares como humor, inveja e compaixão. “A minha busca é fazer com que as pessoas se identifiquem com aquilo que é apresentado no palco”, afirma Dafi Altabeb, diretora da companhia, que estará por aqui nos dias 21 e 22.