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1ª travesti em cargo executivo, Cris põe parada e nome social como metas

Genilson Coutinho,
06/11/2015 | 18h11

Cris Stefanny assume o cargo de coordenadora na prefeitura (Foto: Fernando Antunes)

Atuando há 20 anos como militante na área de direitos humanos, Cris Stefanny, 35 anos, tem uma série de planos voltados à população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) do município de Campo Grande. Na última  terça-feira (3), ela tomou posse como coordenadora de Políticas Públicas LGBT e é a primeira travesti a assumir um cargo no executivo municipal em toda a história política de Mato Grosso do Sul.

Cris Stefanny também ajudou a fundar a ATMS (Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul), onde se tornou presidente da entidade em 2001. Desta forma, ela contribuiu para combater a violência contra a classe. “Naquela época tinha perseguição policial contra as travestis, principalmente, as que atuavam como profissionais do sexo. Com a criação da ATMS, nós conseguimos implementar ações e projetos de lei com apoio do Governo para evitar este tipo de ação”, explicou.

Ela lembra como foi difícil trabalhar à frente da associação, porque até mesmo as travestis não acreditavam que daria certo. “A violência era tão grande que todas elas achavam que o destino final seria a morte. Então a associação veio exatamente neste sentido, para trazer um fôlego de esperança para aquele grupo que já estava excluso do recinto familiar, escolar e social”, apontou.

Assumindo a coordenadoria de Políticas Públicas LGBT, Cris pretende instalar na Capital ambulatórios do processo transexualizador, com o apoio do Ministério da Saúde. “Ainda não existe no Estado e precisamos que os municípios se adequem para receber estes ambulatórios. Sei que a coordenadoria é um órgão novo então vai ser difícil obtermos recursos financeiros, mas se Deus quiser com um plano estratégico, teremos conquistas para a classe”, comentou Cris.

Como coordenadora, ela pretende efetivar a Lei do Nome Social promulgada pela Câmara Municipal e colocar a Parada do Orgulho LGBT no calendário municipal de cultura, porque, apesar de ser um evento público, a parada não é considerada cultural, como no Estado de São Paulo. Desta forma, Cris pretende conseguir recursos da prefeitura para a realização do evento, como por exemplo, aquisição de insumos para contratação de banda, tendas e banheiros químicos. Hoje a parada é feita apenas com recursos do Ministério da Cultura.

Cris também pretende criar o Conselho Municipal LGBT e conseguir cursos de capacitação para gestores da saúde, segurança pública, entre outros setores, para melhor acolher e fazer um atendimento humanizado ao público LGBT.

Nestes 20 anos lutando pela público LGBT, Cris conseguiu que a Lei de Combate à Homofobia entrasse em vigor em 2006. Conseguiu ainda a criação do Conselho da Diversidade Sexual, que atende o público LGBT. “Me sinto honrada e assumir a coordenadoria é um reconhecimento dos meus 20 anos trabalhando para garantir os direitos à população LGBT. Continuarei trabalhando com a mesma fama de lutar pela igualdade de direitos humanos”, concluiu Cris.

Cris tem o ensino médio como formação. Na vida, ela já trabalhou como vendedora de flores, roupas, perfumes e livros, além de ter já atuado como profissional do sexo.